Ene - 15 - 2015

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( http://praxisbr.blogspot.com.br  ) Desde o dia 6 de janeiro, a unidade da Volkswagen de São Bernardo do Campo está paralisada em resposta à demissão de 800 trabalhadores.

No início de Dezembro do ano passado os trabalhadores rejeitaram a proposta da empresa, em acordo com  a direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, para evitar as demissões. Nessa proposta absurda era previsto o congelamento do salário por dois anos, 2015 e 2016, e um plano de demissão voluntária que contaria com a demissão de 2100 trabalhadores.

Como a direção do sindicato pela sua estratégia colaboracionista não inciou imediatamente uma campanha de denúncia contra as eminentes demissões, a patronal voltou a carga com 800 demissões. Os trabalhadores que estavam em férias coletivas a 30 dias foram avisados por correspondência que no dia 5 de janeiro deveriam procurar o setor de Recursos Humanos (RH) para acertar as «contas».  Os trabalhadores não acataram a ordem da patronal e em assembleia foi decidida a greve – na qual os demitidos e os demais entrariam e permaneceriam paralisados no interior da fábrica – de todos os trabalhadores a partir do dia 6 de janeiro.

Essa ofensiva não se restringe a Volks de São Bernardo do Campo. A patronal em todo o país com a desculpa da redução das vendas de veículos (aproximadamente 7%) está demitindo em massa.  Na  unidade da Mercedes Bens de São Bernardo 244 trabalhadores que estavam com o contrato de trabalho suspenso(Lay Off) também foram demitidos.

No ano passado, em plena vigência da redução dos Impostos sobre Produtos Industrializados (IPIs), que gerou uma lucratividade enorme para as montadoras, calcula-se que a indústria automobilística demitiu 12,4 mil trabalhadores. Pode-se dizer que as demissões em massa na indústria já é uma realidade que atinge várias categorias e estados. Ou seja, não é um fenômeno isolado nas montadoras, estão ocorrendo em outros setores, como na construção naval na Bahia e Rio Grande do Sul.

Os trabalhadores não podem novamente pagar pela crise

As montadoras historicamente foram favorecidas pelo estado brasileiro. São incontáveis as facilidades que essas transnacionais do ramo automotivo receberam em forma de benefícios fiscais, tributários, creditícios, infraestruturais e outros. Apesar de ter maior custo e menor eficiência, o transporte rodoviário desde a década de 1950 foi eleitor como a via principal de circulação de mercadorias no Brasil.

Mas, a história de benefícios para esse setor da patronal não para por ai, recentemente nos governos petistas as montadoras têm sido fartamente favorecidas pelo governo. Calcula-se que nos últimos dez anos as isenções fiscais na forma de redução de IPIs proporcionaram uma lucratividade adicional de 27 bilhões e a remessa de lucro, no mesmo período, correspondeu a cerca de 10 bilhões de dólares. É importante que se diga que a isenção de impostos – dinheiro público com o qual se poderia ao menos dobrar o tamanho do metrô paulista – a partir da crise econômica de 2008 seria feita em nome da manutenção dos empregos.

As demissões nas montadoras e a greve dos trabalhadores da Volks impõe ao conjunto da classe trabalhadora uma dupla reflexão. É necessário ter muita clareza que os trabalhadores só podem confiar em suas próprias forças, pois as políticas governamentais de Lula/Dilma diante do conflito capital – trabalho têm demonstrado por várias vezes que ficam do lado da patronal. O exemplo mais recente de que diante de qualquer crise o governo coloca-se do lado patronal são os cortes em benefícios do seguro desemprego e das pensões por morte, sem falar no corte de 1/3 das receitas de todos os ministérios até a aprovação da Lei Orçamentaria de 2015.

Nenhuma confiança na política de conciliação da burocracia

A burocracia se colocou a favor da greve, mas não realizou e não realizará nenhuma inflexão em sua estratégica de conciliação. Por isso, não podemos ter nenhuma ilusão de que irá levar essa luta até o final.  A já histórica conciliação da burocracia do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC  com a patronal e o apoio incondicional ao governo têm levado a uma sequência de derrotas.

O «sindicalismo cidadão», as Câmaras Setoriais e a cogestão desarmou os metalúrgicos nas últimas décadas. Como resultado temos a redução brutal do número de trabalhadores nas empresas, terceirização generalizada, arrocho salarial,  precarização e, agora, mais demissão em massa.

A burocracia e o governo vão insistir na estratégia de conciliação com a patronal. Querem imitar o modelo alemão que consiste em uma redução da jornada de trabalho e que o salário dos trabalhadores sejam bancados em 60% pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) ou do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e em 40% pela empresa.  Essa política é uma forma de deslocar para o conjunto dos trabalhadores o custo com os salários para que as empresas, além de já terem uma enorme margem de lucro, contarem com dinheiro governamental para pagar os salários.

Pensamos que não se pode dar mais nenhum tostão para as montadoras. Se o governo fosse realmente comprometido com os trabalhadores deveria impor a readmissão de todos da Volks, da Mercedes e das demais fábricas. As que não acatarem e continuar a demitir devem ser nacionalizadas e colocadas sob controle dos trabalhadores. Mas sabemos que só faremos a patronal recuar diante da mais enérgica luta, pois diante da ofensiva patronal não há outra alternativa do que depositar todas as fichas na resistência dos trabalhadores e na solidariedade de classe.

Conlutas deve assumir a frente de uma campanha nacional em solidariedade

Pela importância econômica e política que tem o setor metalúrgico é necessário cobri-lo de solidariedade para que ganhe essa luta. A cada metalúrgico das montadoras que perde o emprego muitos outros são eliminados, pois é um setor que puxa todo um complexo industrial que reúne vários segmentos. Além desse aspecto, a derrota dessa greve, que é feita no setor que tem a maior tradição de luta de classe no Brasil, abre espaço político para que a patronal, diante de qualquer redução mínima da sua taxa de lucro, demitia em massa.

É preciso construir instrumentos de luta independentes, tais como: comando de greve e comissão de negociação com representantes da base e eleito em assembléia. Táticas de luta mais radicalizadas precisam também serem colocadas em prática imediatamente. Está bem que a greve esteja sendo feita com os trabalhadores dentro da fábrica,  porém a patronal pode a qualquer momento querer retomar a ofensiva e proibir os trabalhadores de entrarem na empresa…

Os trabalhadores da Volks, da Mercedes, da Ford e da  Karmann Ghia realizaram no dia 12 desse mês uma passeata que reuniu mais de 10 mil trabalhadores. Essa foi uma iniciativa importante, porém totalmente controlada pela burocracia. É necessário construir comitês de apoio a greve para organizar a solidariedade efetiva através da divulgação do movimento, construção do fundo de greve, organização de debates nos bairros e escolas, convocação para ações externas e incorporar nas demais lutas que estão ocorrendo – como a luta contra o aumento das passagens em São Paulo e no ABC – a necessidade de apoiar efetivamente a greve dos metalúrgicos.

É necessário também que a CSP-Conlutas, que é uma central independe do governo e patrões, coloque-se à frente da solidariedade à greve dos operários da Volks. Até o momento a Conlutas não está priorizando essa greve em suas atividades, pois não destaque em seu site e nenhuma resolução, até agora ao menos, no sentido de que a central se coloque como vanguarda de uma grande campanha de solidariedade, estando à frente da criação de comitês de apoio e organizando efetivamente a solidariedade em vários estados. Da mesma maneira, as reuniões que estão sendo convocadas em nível regional e nacional, como a do Espaço Unidade de Ação que ocorrerá no dia 30 de janeiro em unidade com outros setores do movimento, devem pautar centralmente a solidariedade a greve da Volks.

Praxis - Socialismo ou Barbarie, 14/01/2015 - http://praxisbr.blogspot.com.br

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