Universidade de
São Paulo (USP)

Não a expulsão dos estudantes alojados no CEPEUSP

Práxis - Socialismo ou Barbárie, 27/05/11

Os estudantes atualmente alojados no CEPEUSP (Centro de práticas esportivas da UsP) - que atualmente  abriga cerca de 70 estudantes, mais que o dobro de 2007, quando foi fechado -  correm o risco de serem colocados na rua pela COSEAS. Além de esta ser uma medida escandalosa em si, é necessário ressaltar que mais do que de viver em um clima permanente de instabilidade em relação à garantia de permanência, estes estudantes já estão em péssimas condições de alojamento. O espaço físico em que os estudantes ficam no CEPEUSP se localiza debaixo das arquibancadas de futebol, o banheiro dos alunos é o vestiário dos esportistas, os quartos que são divididos por nove beliches são mal ventilados, não existe cozinha nem lavanderia, nem móveis, suas roupas e objetos pessoais são guardados dentro dos pequenos armários (guarda volumes). Para “morar” no CEPEUSP é necessário seguir um conjunto de regras que atentam contra a liberdade dos estudantes. Para se ter uma idéia, ao estilo dos internatos religiosos, os quartos são separados por gênero. Fato que tem uma série de implicações, uma delas é o desrespeito ao direito dos indivíduos escolherem livremente com quem querem morar compartilhar seu espaço de moradia, o que independe do gênero ou da orientação sexual de cada um, por outro lado, é uma medida de clara repressão sexual, típico dos regimes autoritários que encontram nessa forma de repressão uma forma eficaz de controle político e ideológico. Além do desrespeito à liberdade de escolha, esse “critério” causa uma cisão entre os estudantes com claro prejuízo, inclusive, para a plena formação psíquica, cultural e política. A crônica de absurdos não para por ai, é proibido que os alunos estendam qualquer peça de roupa no quarto, o que é impossível de ser cumprido, pois onde os alunos vão estender suas roupas, já que não há lavanderia? Outro absurdo é a entrada dos estudantes até meia noite apenas. Passado este horário: dorme-se na rua.

A história de precariedade do CEPEUSP não é recente, em 2007 o mesmo foi fechado devido denúncia do jornal A Folha de São Paulo, fechando-se ao longo dos anos de 2008, 2009, 2010. Ao ser reaberto, a COSEAS prometeu melhores acomodações, o que em absoluto não ocorreu, pelo contrário, agora a COSEAS quer expulsar estes alunos sem dar-lhes nem uma previsão de moradia fixa. Este departamento de controle e repressão travestido de assistência estudantil tem práticas de conceder, em período emergencial, um auxílio moradia no valor monetário de R$ 300, que todos sabem que é uma quantia ínfima. Com esta medida, a COSEAS quer calar a boca dos estudantes, pois ao aceitar este auxílio, os estudantes saem na esperança de encontrar um aluguel barato ou improvisam com amigos alguma moradia, ou são abrigados por moradores regulares do CRUSP, etc. Mas, passado alguns meses, o auxilio é cortado. Após esse processo intencionalmente excludente por parte da COSESAS, estes estudantes se encontram sem o ínfimo auxilio e sem moradia, abandonados a própria sorte ou ao apoio e solidariedade individual de alguns.

Mas, apesar da COSEAS e de sua maquinaria repressiva e excludente os estudantes do CEPEUSP resistem. Diante da iminência de serem expulsos, uma série de iniciativas para reverter este quadro está sendo posta em prática, sistematizando a própria condição de moradia, elencando justas reivindicações, dialogando e pedindo a solidariedade da comunidade universitária. A última iniciativa foi uma reunião para exigir medidas a COSEAS, onde o coordenador da mesma, Waldyr , sequer se dignou a comparecer. Na ocasião, duas assistentes sociais que representavam o departamento, compareceram a reunião e, dentre outras pérolas, diante da reivindicação dos estudantes por mais vagas, disseram aos estudantes presentes que “o papel da COSEAS não é criar vagas, mas apenas administrar as vagas existentes”, ou seja, ouvimos das bocas destas  aquilo que já sabíamos:  que a COSEAS ajuda a compor o perverso papel da burocracia universitária, além de estar a serviço da manutenção da estrutura elitista da “maior  universidade da América Latina”. A resistência dos estudantes do CEPEUSP diz respeito a todos estudantes, pois no momento é a expressão imediata e incontornável na sua significação da luta pelo direito à permanência estudantil na USP. Assim, nós do PRAXIS -

Socialismo ou Barbárie nos posicionamos ao lado destes estudantes para que suas reivindicações – que são também a de todos nós – de melhores condições de moradia, mais vagas, fim da absurda segmentação sexistas do alojamento, nenhuma restrição ao horário de entrada ou saída do alojamento sejam imediatamente atendidas. Como conhecemos bem ao que e a quem serve a COSEAS, temos claro, por outro lado, que essa batalha só vai ser vencida com muita luta e ampla solidariedade, por isso, neste momento devemos como um todo,  em todas as assembléias, reuniões e discussões do CRUSP e da USP,  discutir a situação destes estudantes, propor e encaminhar ações de apoio a essa luta. Pelo direito à permanência estudantil! Mais vagas na moradia! Por alojamentos dignos! Fim da divisão sexista imposta pela COSEAS.


Em defesa das assembléias e dos fóruns que garantam
a democracia direta dos estudantes

Sem democracia a luta não transforma

O direito de livre organização e expressão de idéias sempre foi alvo de ataques e supressões.  Houve épocas não muito longínquas em que era impensável um grupo de pessoas se reunirem para discutir temas, impressões, e/ou fazer críticas a governos ou a uma determinada situação. Houve tempo ainda em que mulheres, negros, estrangeiros (entre outras minorias ou maiorias) não podiam por força da lei e da repressão direita estar presentes individualmente, sequer coletivamente, em determinados espaços. Esta censura tinha/tem como intuito coibir a participação direta dos indivíduos, limitando-os a mera democracia representativa, em que os interessados são apenas consultados e seu direito é apenas o voto estritamente. Isto é, uma “democracia” que não prevê a contrapartida, a argumentação, a crítica, a discussão e a possibilidade de convencimento e síntese das partes.

Assim, a assembléia foi e ainda é o meio mais democrático de participação dos indivíduos! Nela todos podem falar e expor seus pontos de vista de forma direta e livremente. Para que isso seja possível, as assembléias realmente democráticas devem levar em consideração uma metodologia própria, que tem a ver com sua organização e condução, respeito às falas, ao tempo proposto etc. Para o bom andamento da mesma, é necessário que todos venham com o objetivo de não só convencer, mas também de estar aberto para ser convencido, pois este é um momento de diálogo e embate político, não pessoal. Evitando assim situações como a da última assembleia do CRUSP, em que métodos anti-democráticos e gangsteristas foram utilizados por membros e apoiadores da ex-gestão Novoamorcrusp, destituída por fraude e corrupção, além de atrelamento político e administrativo a COSEAS. As ações lamentáveis destas pessoas durante toda assembléia acabaram resultando na invasão da Amorcrusp, sem nenhuma indicação ou deliberação em assembléia (uma vez que este mesmo setor já tinha autoritariamente decretado o fim da assembleia), chegando ao ponto de um grupo de pessoas, ao forçarem a entrada, quebrarem vidros, fato que resultou no ferimento da mão de um morador. Outro acontecimento recente foi a última assembléia geral da USP, realizada na EACH, conduzida pela atual gestão do DCE Todas as vozes/PSOL, em que esta direção tentou encaminhar um assembléia velada, ou seja, uma assembléia onde aqueles que não concordassem, não podiam se expressar, o que se verificou na tentativa de proibir as declarações de abstenções, resultando na implosão da assembléia. Diante destes fatos, portanto, perguntamos a este dois setores, o primeiro, encabeçado pela ex-gestão Novoamorcrusp (CRUSP), se, de fato, é gestão Novoamorcrusp ou Nova Coseas ?! e, para o DCE, se a gestão todas as vozes é só no nome ou, ainda,  se é todas as vozes, só que as deles?!

Ações como estas não são somente um ataque ao instrumento legítimo, soberano, democrático - que é a assembléia – e que foi conquistado através das lutas, como, também, são um ataque evidente ao próprio movimento, que por não poder contar com espaços como este, fica a mercê da própria sorte. Nesse sentido, as assembléias na USP vêm sendo atualmente desqualificadas e desgastadas, quando na verdade deveriam ser a instância maior do movimento. Na medida em que a má condução das assembléias também é fator de retrocesso para o movimento, no sentido de não agregar novos estudantes, causando-lhes, pelo contrário, apatia, assim, a assembleia torna-se um espaço em que, devido ao personalismo e oportunismo de alguns, todos acabam pagando.

Nesse sentido, nós, do Práxis - Socialismo ou Barbárie, enfatizamos a necessidade de assembleias soberanas e democráticas para a continuidade do movimento e que visem a intensificação e unificação do mesmo. Só assim será possível lutar por uma educação de gratuita e de qualidade que vise permanência estudantil abrangente e não precarizada (como é o caso do alojamento do CEPEUSP), ou ainda, contra a possível catracalização do bloco A1 - bloco este que é fruto da luta direta dos estudantes (ocupação da reitoria em 2007) - e, também, contra a possível expulsão de 300 estudantes, moradores do CRUSP que, em vias da terminar o curso, podem ser expulsos de suas moradias. Assim, no caso específico do CRUSP, acreditamos que as discussões não podem se restringir apenas ao espaço da assembléia, mas devem ser antecedidas e seguidas de um amplo processo de discussão com reuniões abertas na associação dos moradores, reunião nos blocos (com representantes eleitos em assembleia) e outros possíveis fóruns de debate.