Crisis mundial

Sob o espectro da Grande Depressão, parte 3

Crise Laboral Mundial e Luta de Classes

A complexa mecânica do despertar operário

Por Roberto Sáenz
Socialismo o Barbarie, 21/03/09

Durante os últimos dias temos tomado conhecimento que Microsoft, Intel, United Airlines, Home Depot, Sprint Nextel e Caterpillar estão eliminando milhares de postos de trabalho.  Não são somente números sobre uma página. Como no caso dos milhões de postos de trabalho perdidos em 2008, trata–se de homens e mulheres trabalhadoras cujas famílias tem sido desestabilizadas e cujos sonhos foram postergados”[i]

A revista inglesa The Economist dedicar sua última edição(19/03) ao tratamento da evolução do emprego em nível mundial. Sob o título “A crise do trabalho”, o que esta é dando conta do mais recente desenvolvimento da crise: “A próxima fase do colapso econômico mundial está tomando forma: uma crise laboral global. Seus contornos estão recém definindo–se, mas a severidade, o ritmo e amplitude da recessão, junto com a mudança na estrutura dos mercados de trabalho, tanto nos países ricos como nos emergentes, sugerem que o mundo esta a ponto de viver o maior incremento no desemprego, em décadas”[ii]

Sua mecânica tem sido a seguinte: de uma crise “originada” no terreno da quebra hipotecária, logo transladada por via da restrição creditícia a um retrocesso da produção mundial e, imediatamente, a uma grave reversão em matéria de comércio internacional, a preocupação começa a transportar–se ao impacto de todos estes desenvolvimentos ao mercado de trabalho internacional.

“No mês passado, o desemprego nos EUA chegou a 8,1%, o índice mais alto em 25 anos. Para aqueles que acabaram de ser despedidos, as chances de encontrar um novo emprego são as piores desde que começou a medir–se o índice há 50 anos. Na China, 20 milhões de trabalhadores migrantes (provavelmente 3% da força de trabalho) foram despedidos. A Indústria têxtil do Camboja, a sua principal fonte de exportações, despediu um trabalhador em cada dez. Na Espanha, a queda na construção levou a taxa de desemprego aos 14,8%, em janeiro. No Japão, dezenas de milhares de pessoas com contratos temporários estão perdendo não somente seus trabalhos, senão também as casas providas pelo empregador”[iii]

Nestas condições, as razões para a crescente preocupação entre os poderosos acerca das possíveis conseqüências desta realidade são óbvias: a crise mundial do emprego esboça a possível emergência de um salto de envergadura nas lutas operárias a nível mundial.[iv]

Sem embargo, apesar disso, é um fato que ante a magnitude da crise em curso, a resposta dos trabalhadores esta se expressando, todavia, de maneira desigual: tão desigual como o são também as circunstâncias políticas adversas nas quais a crise impacta e que têm a ver com a configuração específica de cada classe operária “nacional”, no que diz respeito tanto com suas dimensões de “classe em si”, como as de “classe para si”.

Como alertara agudamente Trotski: “os efeitos de uma crise sobre o curso do movimento operário não são todos unilaterais como certos simplistas imaginam. Os efeitos políticos de uma crise (não só a extensão de sua influência como também sua direção) estão determinados pelo conjunto da situação política existente e por aqueles acontecimentos que precedem e acompanham a crise, especialmente as batalhas, os êxitos e os fracassos anteriores da própria classe trabalhadora. Sob um conjunto de condições, a crise pode dar um poderoso impulso à atividade revolucionária das massas trabalhadoras; sob um conjunto distinto de circunstâncias pode paralisar completamente a ofensiva do proletariado; e caso a crise dure demasiado e os trabalhadores sofram perdas em demasia, poderia debilitar extremamente não só o potencial ofensivo senão também o defensivo da classe”.

Calibrar a medida da resposta da classe da classe trabalhadora à crise requer uma análise concreta do “ambiente” na qual a esta está impactando e que é o que permite ir metabolizando e traduzindo esta mesma crise em ações de luta e organização. Isto é o que pretendemos fazer no presente trabalho.

A emergência do desemprego de massas

Partamos de um sumário repassar da evolução da\ crise econômica nas últimas semanas. A mesma não fez mais do que aprofundar–se. O Banco Mundial acaba de emitir um sombrio panorama das perspectivas do ano de 2009. Pela primeira vez desde a Segunda Guerra, o produto mundial cairá ao menos em um ou dois pontos. Também informou que a produção industrial cairá, com respeito a 2008, uns 15%. Como a sombra ao corpo, o comércio também está em uma queda livre que o aproxima a índices similares aos de 80 anos atrás.[v]

Não é por acaso que o Presidente da entidade, Robert Zoellick (colocado no cargo por nada mais nada menos que o mesmo G.W. Bush) assinalou que “não se viam números deste tipo desde a II Guerra Mundial, ou desde os anos 1930”.

Em síntese: a economia mundial está equilibrando–se entre uma crise recessiva inédita nos últimos 50 anos e a cada vez mais provável Segunda Grande Depressão do capitalismo contemporâneo. É esta mesma dinâmica que está impactando agora, em tempo real, sobre o mercado de trabalho mundial.

Neste contexto, vive–se o dramático salto nos índices de desemprego mundial. Como disse The Economist, os índices mais graves em décadas sobretudo nos países centrais. Há que recordar que o índice de desemprego é outro dos indicadores da tendência a depressão mundial. Porque se bem que em termos absolutos se está distante dos picos da Grande Depressão, a aceleração que está tomando a demissão de milhões de trabalhadores mostra uma dinâmica similar à dos anos 1930. Naquela oportunidade, e sabido que em 1929 o desemprego se situava nos 3% nos EUA e disparou para 8% em 1930 e teve seu pior momento os 25% de 1933.

Nestas condições, também do já conhecido informa da OIT acerca de 2009, se produziria a destruição absoluta de 50 milhões de postos de trabalho[vi], importa ver como o tema, região por região, como está afetando esta crise. Sua dimensão “teórica” é ingênua: a à destruição dos capitais excedentes (excesso de capacidade instalada e fechamento de plantas industriais, se segue a destruição dos postos de trabalho que quedam sem razão de existir.

“EUA sofre um excesso de capacidade. Os sinais de excesso de capacidade são fáceis de serem vistos. O número de casas vazias chegou aos 19 milhões no quarto trimestre de 2008: uma elevação de 6% frente ao mesmo período do anão anterior. As taxas de ocupação hoteleira caíram de 65,5% a um ano, para 55,2 em princípios de março. As plantas industriais operaram em fevereiro a uma média de 67.4% de suas capacidades, o nível mais baixo. Dede que a FED começou a acompanhar estes dados em 1948”. E agrega especificamente a respeito da indústria automotriz (o ramo industrial mais afetado pela crise): “A grande pergunta para o setor automotriz europeu é onde fechar fabricas. Nos EUA, o resgate da indústria automotriz está tomando uma forma diferente do da França. Ao invés de se concentrar me a proteção de empregos, as autoridades estadunidenses ligaram as ajudas a um requisito que obrigou a GM e a Chrysler a desenvolver planos que resultarão em milhares de demissões mais o corte de salários, serviços de saúde e outras prestações. A França exemplifica o dilema que enfrenta a indústria automotriz da Europa continental: como resolver o enorme excesso de capacidade quando nenhum governo está disposto a deixar que as fabricas se fechem. Os analistas do setor temem que o protecionismo atrase a profunda reestruturação que crêem fazer falta em todo o mundo (...) ‘Entendo que seja um problema político, mas não há futuro em manter todas as fábricas abertas’.·”.

Assim funciona então a mecânica material da crise: o barateamento da massa de capital constante fixo segue também a do capital variável, tanto pela via do desemprego como por um correlativo aumento da produtividade do trabalho: mais mercadorias serão produzidas – quando a crise passar – com menos trabalhadores em condições de uma maior taxa de exploração.

EUA, Espanha, China e Brasil

Acerca do tópico que vimos tratando há pontos de referência de extrema importância por seu peso objetivo; trata–se dos casos dos EUA, Espanha, China e Brasil, casos–testemunho em matéria da emergência de situações de desemprego de massas. Verdadeiros laboratórios no que tem que ser observado em como a classe operária irá metabolizar a queda de suas condições de existência produzida pela crise e como irá se sobrepondo e respondendo a esta agressão.

“No mundo rico, as perdas são mais impactantes nos EUA, onde começou a recessão. Seu mercado de trabalho flexível destruiu 4,4 milhões de empregos desde que começou a queda em dezembro de 2007, incluindo 600.000 trabalhadores em cada um dos últimos três meses. A taxa de desemprego saltou para 8,1% em fevereiro, a mais alta em um quarto de século. O americano que perde hoje um emprego tem as mais baixas chances de em contar um novo que em qualquer outro momento dos últimos cinqüenta anos.” [vii]

Nos últimos dias a este informe se acrescentou o seguinte: “Os sinais mais claros do excesso de capacidade estão no mercado de trabalho. Ontem (quarta–feira 18/03), o Departamento de Trabalho informou que o número de novas solicitações de seguro–desemprego caiu, na semana passada a 646.000. A média de quatro semanas, porém, subiu a 654.750, o mais alto nível em 26 anos. O total de estadunidenses que recebem o seguro–desemprego saltou para quase 5,5 milhões, um novo recorde. No geral, o número de desempregados nos EUA, ajustado por temporada, subiu a 12,5 milhões de pessoas nos últimos 12 meses, elevando a taxa de desemprego a 8,1%. Outras 8,6 milhões de pessoas estão trabalhando em tempo parcial, mas prefeririam ter um emprego de tempo completo. Quando se contabilizam estes trabalhadores, a taxa de subemprego – um índice mais amplo da capacidade ociosa no mercado de trabalho – chega a 14,8%. Isso não e só um para os desocupados, senão também que exerce uma forte pressão para a queda dos salários.”[viii] Quer dizer, oficialmente, mais de 20 milhões de pessoas tem problemas de trabalho nos EUA hoje.

Mas não se trata somente dos EUA: “Mas, já está claro que o desemprego vai impactar que o desemprego vai impactar muito duramente mais além dos EUA e Grã Bretanha. No Japão, o PIB esta caindo mais rápido do que em qualquer outra economia rica. Ainda que o desemprego seja baixo, as rápidas perdas de trabalho estão expondo a injustiça de um mercado laboral de duplo padrão e colocando sob pressão a idéia de uma sociedade igualitária”.

Na Europa, o desemprego cresceu mais rapidamente em lugares como Espanha[ix] e Irlanda[x], onde os boom imobiliários são coisas do passado, mas a crise somente começa a impactar mais além. As taxas de desemprego em muitos países europeus são mais baixas do que nos EAU, mas isso é porque seus mercados de trabalho mais rígidos se ajustam mais lentamente à queda da demanda. Porem, dado o ritmo de queda das economias européias ninguém duvida que o pior estão por vir. Para o final de 2010, o desemprego em muito do mundo rico está estimado para acima de 10%. E i informa termina dando conta da situação na periferia: “Nos países emergentes, o padrão não será diferente, mas as conseqüências mais dolorosas ainda. Enquanto o intercâmbio cai, milhões de trabalhadores estão perdendo seus postos de trabalho nas cadeias de abastecimentos globais. A pobreza vai crescer na medida que devem voltar ao mercado informal ou retornar ao campo. O Banco Mundial espera que 53 milhões de pessoas caiam abaixo do nível de extrema pobreza este ano.”[xi]

Neste sentido, o caso do Brasil é paradigmático na América Latina (bem mais por seus perigos que por suas potencialidades), dado que é a maior economia da região. O dado de destruição de empregos em dezembro impactou pelo seu caráter descomunal, alcançando mais de 600.000 demissões, dinâmica que parece haver continuado em janeiro e fevereiro. Neste contexto, estão se produzindo situações como na fábrica de aviões da EMBRAER, onde foram demitidos 4.200 trabalhadores, em um total de quase 20.000. Quer dizer, claramente, produziu uma situação de demissões em massa que, apesar dos diversos recursos políticos e judiciais que está levando adiante sua representação sindical, não logrou gerar uma só medida de luta efetiva das bases frente à agressão.[xii]

Está claro que isto poderia se transformar em um problema dramático, porque se este mau exemplo se multiplicar sem que se produza uma reação operária de acordo, as perspectivas operárias do país poderiam  registrar um giro dramático.

Em síntese, o que se pode ver é a emergência de uma circunstância onde estão sendo colocadas na mesa índices de desemprego não habituais na normalidade do sistema – sobretudo entre os países do norte do mundo – e que em variadas circunstâncias configuram dramáticas situações  onde o que esta em jogo e a eventualidade de que se produzam situações de desemprego em massa.[xiii]

Esta realidade é a que remete – no plano político – a uma questão mas ampla e delicada; a que tem a ver com a concreta recepção da crise entre os trabalhadores do mundo e seus processos de enfrentamento ao ataque capitalista que já está significando um tremendo martelar sobre suas condições de existência e consciência.

Isto nos remete concretamente ao ciclo de lutas e processos de recomposição, além, em seu conjunto, de sua consciência e organização que podem emergir da crise.

O metabolismo social do desemprego

A dialética que estamos assinalando em matéria de emprego está inevitavelmente marcada por uma desigualdade nacional de circunstâncias. Há, porém, uma série de padrões comuns: mundialmente o capitalismo logrou fragmentar e dividir profundamente a classe trabalhadora nos últimos 30 anos. A assalariação se estendeu a olhos vistos, o número de proletários aumentou, mas cresceu com eles a atomização e fragmentação dos trabalhadores: uma classe trabalhadora cuja estrutura está marcada por uma série de “anéis concêntricos”.

Isto se pode ver claramente em momentos onde a ligação mais débil tem a ver com todas as circunstâncias de contratações informais. Aqui, se superpõem várias “situações”: diferenciais de relação de contratação, questões geracionais, questões étnicas e migratórias.

Desde outro ângulo, o que se põe sobre a mesa é toda a rica diversidade da classe operária mundial no que tem a ver com suas gerações, origens nacionais, diferenciais étnicos, etc, e como esta riqueza potencial, esta “universalidade” é aproveitada pelo capitalismo para o contrário: dividir, envenenar e empobrecer o conjunto da classe trabalhadora internacional.

Mundialmente, o capitalismo as engendrou para dividir cada classe operária “nacional” nas diversas situações de contratação, umas mais frágeis que as outras. Estas “figuras operárias” frágeis são as que vem sendo a primeira variável de ajuste da crise. No caso dos EUA, a imigração latina e a classe trabalhadora de cor; no caso da EU, trata–se da migração africana ou asiática; na China, do proletariado vindo do campo; em países latino–americanos, como a Argentina – socialmente muito “homogêneo” – a variável de ajuste são os contratados.

Em todos estes casos, esta importantíssima porção da classe operária mundial (estamos falando de quase a metade do proletariado mundial), opera como “válvula de segurança” do sistema que permite deixar na rua a franja mais débil da classe trabalhadora.

Trata–se de uma “variável de ajuste” – ou mais conceitualmente, uma das leis contra–restante do capitalismo para a crise – que ao não afetar diretamente as porções mais estáveis da classe trabalhadora funcionam como um “colchão” amortecedor social para produzir demissões em massa sem que, no imediato – se tenha produzido uma resposta a altura da agressão. Este e um padrão internacional que explica materialmente também porque – mundialmente – a reação não está de acordo com o ataque em curso.

“As mudanças estruturais na Europa sugerem que os postos de trabalho vão se perder mais rápido do que em quedas econômicas anteriores. Os contratos temporários proliferaram em muitos países, às custas da dificuldade de despedir trabalhadores permanentes. Muita da redução do desemprego na Europa nestas ultimas décadas foi devido ao rápido crescimento neste tipo de contrato. Agora o processo está indo de volta. Na Espanha, o exemplo mais extremo de mercado “dual”, todos os postos de trabalho perdidos no ano passado forem de temporários. Na França, o emprego temporário caiu um quinto. Os postos de trabalho permanentes praticamente não foram afetados. Ainda que a profusão dos contratos temporários tenha trazido maior flexibilidade, deixou cair o maior peso do ajuste desproporcionalmente nos menos qualificados, os jovens e os imigrantes. A maior proporção de imigrantes na força de trabalho européia também faz com que o padrão de desemprego seja menos sentido.”[xiv]

Logo se dá o exemplo do Japão, também emblemático neste sentido: “Apesar de ter poucos imigrantes, o Japão também esta mostrando as conseqüências de um mercado de trabalho dual. Sua força de trabalho está mais dividida do que em qualquer outro país industrializado. Os trabalhadores “regulares” gozam de uma forte proteção; a massa flutuante dos temporários, contratados e trabalhadores de meio período não tem praticamente nenhuma. Desde 1990, a “década perdida”, as empresas se apoiaram crescentemente nestes irregulares, os quais representam agora um terço da força de trabalho, quando eram em torno de 20% em 1990”.[xv]

A lei dialética da passagem da passividade à ação

Mas todo o anterior não deixa que o caráter histórico dos índices que estão sendo colocados sobre a mesa expressa uma acumulação de tensões e a eventualidade de situações de desequilíbrio social que pode terminar estalando abruptamente sob forma de uma onda mundial de protestos.

Na dinâmica de aprofundamento da crise e do fechamento puro e simples de fábricas não há como não atacar o “primeiro círculo” de trabalhadores com contratos estáveis.

Sem embargo, é um fato que o problema estrutural que estamos assinalando se combina – neste primeiro momento – com outro que concerne mais a subjetividade da primeira reação frente a queda que nos rodeia: “Creio que o primeiro efeito da crise não vai ser por a gente em movimento, senão dar–lhes medo e torná–los temerosos por seus empregos, se é que ainda tem um. Mas logo, a partir de certo ponto as coisas mudam. As diferenças entre os 1970 e agora são que quando a crise impactou em meados dessa década (nos EUA), já se havia passado o pico do avanço daquela década, tanto em termos do movimento da mulher como do “poder negro”; mas também o movimento trabalhista havia passado seu ponto mais alto. Desde já nos estamos em um crescimento ainda. A trajetória é diferente agora. Deve–se ser cauteloso em fazer prognósticos. Mas se em alguma vez houve uma convergência de condições que podem pressionar as coisas em uma direção correta, creio que começaram a decantar agora”.[xvi]

O medo acerca do qual estamos falando se desprende precisamente da “morte social” que significa – em muitos casos – o desemprego.[xvii] Está claro que a cobertura social varia de região para região tornando mais ou menos dramática a circunstância de estar sem trabalho. Por exemplo, globalmente, é muito mais importante na Europa Ocidental continental do que nos EUA, Inglaterra ou mesmo China. Recorde–se a respeito do EUA o dado que citamos acima: se a taxa de desemprego já e lá a mais alta em 25 anos, a recuperação de um novo emprego é a mais difícil em 50 anos! “As demissões em massa de operários e empregados nos EUA são um barômetro e marcam o momento em que a crise começa a sair da superestrutura econômica financeira e a espalhar–se por dentro da sociedade estadunidense. A desocupação, já ocorrida no mundo subdesenvolvido como no Império, é uma circunstância limite, onde a prioridade é o risco da sobrevivência do indivíduo e sua família. Já não se trata de uma desvalorização de salário pelo aumento dos preços, senão do desaparecimento do salário e da capacidade de consumo com a desagregação da conduta social que acompanha. Um desocupado (que havia perdido seu universo de consumo e sobrevivência, incluindo o de sua família) não pode ser contido com injeções financeiras, com, assistencialismo, requer uma solução estrutural (a restituição do emprego e do salário).”[xviii]

Precisamente esta realidade se expressa em uma tendência de ordem matabólico–social: sempre para a classe trabalhadora resultou mais difícil enfrentar situações de demissões em massa. Pelo menos em um primeiro momento; é que custa a se fazer uma composição de lugar e encontrar pontos de apoio quando o mundo cai a olhos vistos ao seu redor; alem disso, no lugar de trabalho, isto coloca materialmente a classe trabalhadora na defensiva, diferentemente das situações onde predomina o pleno emprego que habitualmente facilitam a pressão pela recuperação dos salários ou das condições de trabalho.

O metabolismo social do desemprego funciona assim – inicialmente – como um fator  paralisador[xix]: psicologicamente trata–se da idéia de que “a mim não tocará” ou que a mesma “será só passageira”. “É inevitável que haja, apesar da severidade da queda, uma aquiescência residual no mercado, inclusive entre os trabalhadores. Muitos estão paralisados pelo colapso econômico. Há inclusive uma visão ingênua entre muitos trabalhadores que a crise vai ser temporária, que terminará ate o final do ano.”[xx]

E no mesmo sentido, por exemplo, sobre a situação da Irlanda: “As salvaguardas do governo causaram um profundo repúdio e estão pressionando a gente em direção a esquerda, em direção a atividade e a luta. Muitos estão desgostosos que o governo corra para salvar aqueles que causaram a crise financeira, ao mesmo tempo que corta empregos e salários. Mas, ao mesmo tempo, a propaganda dos meios de comunicação e do governo e o impacto da crise golpeiam as pessoas levando–as voltar atrás, junto com a luta há também o medo e a confusão acerca do que o que se pode fazer.”[xxi] Em síntese, fatores estruturais e psicológicos se combinam para dificultar a reação inicial da classe trabalhadora aos ataques capitalistas.

Todavia, passado o tempo, vale a lei dialética do salto de quantidade em qualidade: quando o efeito dos ataques concerne já a maioria social dos trabalhadores, quando não restam recursos econômicos e subjetivos para acreditar–se que não vá ser tocado, quando começam, aqui ou ali, a acontecerem experiências de luta que servem de ponto de referência ou exemplo para os demais, a situação pode virar 180 graus para um aumento das lutas operárias, tem como ocorreu por exemplo nos EUA da Grande Depressão de 1933, o maior aumento das lutas trabalhadoras até hoje. A distância entre o constante agravamento da situação objetiva e a consciência da classe trabalhadora podem tender dialeticamente a fechar um período. Eventos explosivos vão ajudar nesta dinâmica. Na borda do abismo a massa de trabalhadores vão questionar o sistema capitalista, muitas vezes sem idéias claras acerca do que pode ser posto em seu lugar. É precisamente esta mesma lei materialista dialética a  que acaba de funcionar na seqüestro de  dois altos funcionários da Sony no sul da França: “Impedir que o executivo deixasse a fábrica era a nossa ultima chance. Não tínhamos nenhuma outra alternativa.”[xxii]

Em síntese: a dialética da luta de classes pode terminar fazendo da necessidade de enfrentar a catástrofe uma virtude para empurrar a classe trabalhadora mundial para a luta. É esta mecânica que seguramente entrará em ação uma vez passada esta primeira fase do desastre econômico mundial: “No caminho especulativo em direção ao equilíbrio capitalista há muitos obstáculos gigantescos: o caos do mercado mundial, o desbaratamento dos sistemas monetários, o domínio do militarismo, a ameaça da guerra, a falta de confiança, no futuro. As forças elementares do capitalismo estão buscando vias de escape entra as pilhas de obstáculos. Mas estas mesmas forças fustigam a classe trabalhadora e a impulsionam adiante.”[xxiii]

A possível emergência de um novo movimento trabalhador

“Pela primeira vez em minha vida, estou vendo alguns lideres sindicai (dos EUA) que tomam a questão racial. Isto não é usual. Geralmente não os interessa; de fato, ele tem medo. Eles tem que falar para suas bases brancas, muitas das quais são perfeitos racistas.”[xxiv]

Marx utiliza dos conceitos para dar conta da situação da classe trabalhadora: os planos da classe em si (a dizer, a análise de sua situação estrutural do que acabamos de dar conta) e da classe para si (como fato subjetivo, seus níveis de consciência e organização). Estes planos são muito importantes para compreender hoje o impacto da crise e os inibidores e desencadeantes da luta. Trata–se que a classe trabalhadora a nível mundial – mais alem de suas desigualdades – emerge nesta crise saída de 30 anos de contra–reformas e transformações antitrabalhadoras, tanto no plano estrutural, como sindical e político. Daí que não ser mecânica a resposta frente a agressão capitalista de fazê–la pagar pela crise.

Estruturalmente, já temo feito referencia às condições de atomização e fragmentação em toda uma série de condições contratuais, alem do rol que cumpre a imigração, o fator étnico ou a a simples “exportação” para outro país de toda uma classe trabalhadora, como ocorre no caso da América central.

Mas a este elemento estrutural esta se começando a sobrepor outro de ordem revolucionária no terreno da subjetividade. Por exemplo, nos EUA está colocada a eventualidade de uma re–sindicalização maciça da classe: se na década de 1950 35% da classe trabalhadora estava sindicalizada, agora, a duras penas, alcança–se 8%. Hoje, para formar um sindicato, em lugar de trabalho há que se passar por um plebiscito secreto que autorize tal coisa, plebiscito a mais da vezes manipulado pelo patrão. Todavia, hoje, no calor da crise, parecem estará abrindo–se brechas nesta situação, brecha por onde poderia passar um concreto processo de reorganização sindical dos trabalhadores estadunidenses, um pouco como ocorreu também nos anos 1930.

Inibindo estes possíveis desenvolvimentos em matéria de luta e organização está, por suposto, o decisivo papel das burocracias sindicais em mediar todo possível processo de luta e de reorganização. Ver por exemplo o caso da França, onde entre uma e outra convocatória da jornada nacional de luta decorreram praticamente dois meses! Isto se pode apreciar também nos EUA, hoje. Ver o cipoal papel da burocracia nas indústrias automotrizes entregando uma a uma as conquistas dos trabalhadores sem chamar a uma só medida de luta.

Também no caso irlandês ver um exemplo que é representativo da atuação conservadora de todas as burocracias a nível mundial: “A luta (pelo resgate dos bancos) obrigou ao Congresso Sindical de Irlanda (ICTU) a responder forçando–o a chamar uma demonstração nacional em Dublin contra as medidas do governo. Isto ocorreu respondendo às pressões primeiramente do setor público, mas (mais em conjunto) o ICTU e os sindicatos individuais estão fazendo praticamente nada para afastar os efeitos da crise no setor privado. Esta atuação é uma desgraça e ajuda ao governo em seus planos de “dividir e reinar”, permitindo–lhes lograr um certo êxito em seus ataques ao próprio setor público.”[xxv]

No mesmo sentido queremos reafirmar aqui uma das possíveis tendências da crise da crise da dimensão de classe para si dos trabalhadores na ordem mundial: a eventualidade de desenvolvimentos progressivos no terreno da organização dos trabalhadores ao calor da crise. Um exemplo óbvio por sua importância é o do mesmo EUA. Muitos analistas estão assinalando o impacto da eleição de um presidente de cor, sobretudo entre a classe trabalhadora do sul do país, hoje dramaticamente dividida pela cor e por racismo. O que vai acontecer com esse trabalhador branco do sul que se identificava mais com o patrão branco que com seu companheiro de cor, agora que o presidente é negro?

Esta interrogação tem a ver com o aproveitamento das maiores possibilidades eventuais de sindicalização de novos e mais dinâmicos setores da classe trabalhadora norte–americana, como contraditório efeito de uma série de leis trabalhistas que poderia por em cheque o governo de Obama. Neste sentido, assinala Kin Moody, antigo editor das conhecidas Labor Notes: “Creio que está bastante claro que as direções tradicionais do movimento dos trabalhadores norte–americano – a UAW (sindicato automotriz), os trabalhadores do aço, etc. – não estão chamados a ser a vanguarda do que ocorre. Estão colocados completamente na defensiva, e não vejo mudança nisso. Mas podemos olhar em direção a outros locais, em locai tais como o dos trabalhadores do empacotamento de carnes, que é uma das poucas onde a densidade sindical cresceu nos últimos anos. Eles foram obrigados a estabelecer relações com movimentos sociais, com grupos no Sul e, particularmente, com trabalhadores imigrantes (...). Creio que organizar o Sul é a chave em todas esta questão. Os imigrantes vão jogar um papel nisto, o mesmo que vão fazer os trabalhadores negros, assim como uma pequena porção de trabalhadores brancos que sustentaram Obama e estão dispostos a ir além de seu tradicional racismo”.[xxvi]

Para além de se julgar se estas apreciações e apostas estratégicas estejam corretas ou não (fica a dúvida acerca do papel imprescindível dos pesos pesados da classe trabalhadora ianque), elas expressam muito bem o tipo de questões que se colocaram entre os proletariado ianque, talvez as mais importantes desde o avanço dos anos de 1930.

Quando se pode quebrar o equilíbrio social das classes

Todavia, o anterior não apaga que se esteja vivendo já as primeiras manifestações de radicalização como subproduto da crise, ainda que não sejam de todo generalizadas: “Se queremos ficar ingratamente impressionado, não há mais que colocar um mapa na parede  e começar a marcar alfinetes vermelhos onde já tenham sucedido episódios de violência. Atenas (Grécia), Longnan (China), Porto Príncipe (Haiti), Riga (Letônia), Santa Cruz (Bolívia), Sofia (Bulgária), Vilnus (Lituânia) e Vladivostok (Rússia) serviriam para iniciar. Muitas outras cidades, de Reikjavic, Paris, Roma, Zaragoça, Moscou e Dublin foram testemunhas de importantes protestos provocados pelo crescente desemprego e queda de salários. Se cravássemos alfinetes de cor laranja nestas localidades – nenhuma, entretanto, nos EUA – nosso mapa pareceria arder de atividade. E se você for um jogador ou jogadora, a aposta segura será bastante provável a de que este mapa será mais povoado de alfinetes vermelhos e laranjas”.[xxvii]

E logo agrega este mesmo analista: “Em sua maior parte, é provável que estas convulsões, ainda quando sejam violentas, sigam sendo de índole localizada, e bastante desorganizadas para que as forças governamentais não as ponham sob seu controle em questão de dis ou semanas, por mais que – como no caso de Atenas, durante seis dias de dezembro passado – a paralisia urbana se prolongue devido aos distúrbios, gases e cordões policiais. Essa tem sido a tônica ate agora. É inteiramente possível, entretanto, que a medida que a crise econômica piore, alguns destes sucessos sofram uma metástase que os converta em acontecimentos de muito maior duração e intensidade: rebeliões armadas, tomada de poder pelos militares, conflitos civis e ate guerra entre Estados motivadas pela economia.”[xxviii]

Neste sentido, o mais avançado exemplo de luta operária mundial foi o momento da greve geral revolucionária nas reduzidas ilhas de Guadalupe e Martinica: greve geral que obrigou ao governo de Sarkozy a firmar um compromisso de 170 pontos, incluindo salários, condições de contratação, etc. A luta teve características semi–insurrecionais: a central sindical organizou em volta dela praticamente toda a comunidade durante os 44 dias de greve geral; o “Coletivo contra a Exploração” foi, ao longo de semanas e semanas, um verdadeiro poder paralelo na ilha.

Não se trata que se tenham visto somente no caso de Guadalupe e Martinica ações operárias radicalizadas. Como já temos assinalado, na fábrica Sony, no Sul da França, os trabalhadores tomaram de refém por toda uma noite a seus patrões. Somente os deixaram ir quando estes se comprometeram a pagar as indenizações correspondentes pelas demissões geradas pelo fechamento da indústria. Tratou–se de uma dura medida de luta somente para cobrar uma indenização maior, mas o fato de esta ação seguida de outras similares neste país de enorme tradição de luta, não deixa de atuar como um símbolo poderoso das tremendas potencialidades que estão encerradas na classe operária e que poderiam se desdobrar com a crise.

Concretamente, se o fechamento de fábricas se multiplicaram, se poderia estar ante a eventualidade de uma onda mundial de ocupações de fabricas. Ate agora, a que mais transcendeu internacionalmente foi a dos trabalhadores latinos de Chicago da “Republic Windows and Doors”, os que ocuparam sua fábrica ao longo de uma semana, ainda que somente para cobrar sua indenização. Nestes momentos estão se vivenciando uma série de ocupações em vários países, mas este é um fenômeno isolado e fragmentário. Sem dúvida, ante  a generalização de situações  de dispensa em massa, se poderia estender esse processo, questão em todo caso que cabe promover com todas as correntes revolucionárias.

Ao mesmo tempo, em países arrasados pela experiência do tatcherismo, como a Inglaterra, também começam e se expressar sintomas – ainda que estejam cheias de contradições – de um possível despertar dos trabalhadores: é o caso dos operários de construção de refinaria.

Essa luta foi apresentada– de maneira interessada – como uma greve “racista”. Apesar de nossa distância dos acontecimentos, temos a impressão de que a coisa foi, ao mesmo, muitíssimo mais contraditória. A questão é que se tratou de uma das poucas greves selvagens na Inglaterra dos últimos anos.  Greve selvagem na medida que não seguiu os ultra reacionários requisitos estabelecidos desde a época de Margaret Tatcher, no sentido de que para realizar uma miserável medida de força há que haver um plebiscito secreto prévio, antecipar a medida com meses e meses de antecipação, etc., todas questões que tendem a liquidar o caráter de luta de uma medida de força.

Nestas condições, “esta luta foi um laboratório, um teste para media a consciência da classe operária e como as diferentes tendências políticas fazem frente a esta realidade. Dada a noite escura do neoliberalismo, seria inteiramente utópico não esperar que elementos de nacionalismo e inclusive de racismo estivesse presente na consciência de alguns trabalhadores, em alguns casos ate mesmo a maioria. Este, sem dúvida, não foi o caso nesta oportunidade. Foi, em essência, uma luta contra a tentativa capitalista de impor condições de trabalho de escravidão!” [xxix]

Em síntese, o que está em jogo nesta nova atuação mundial aberta pela crise é que nos países mais característico da dominação capitalista mundial parecem estar acumulando condições de uma ruptura do equilíbrio social das classes de enormes proporções: alem da França (com toda sua tradição de luta), é o caso de EUA, da própria China, do Japão, da Inglaterra, etc.; nações centrais da dominação capitalista mundial que poderiam viver um auge de lutas operárias que terminaria virando a página, estabelecendo um marco histórico de luta de classes mundial.


[i] “Los costes humanos de la crisis financiera”. En www.socialismo–o–barbarie.org

[ii] The Economist, 12–03–09.

[iii] Idem, The Economist.

[iv] Neste sentido,  o que se está observando é que os países que primeiro caem pelo tobogã da crise são os elos débeis do sistema. Esta vem sendo uma das características da crise em curso. Dentro deste pelotão de países e regiões que estão as portas da bancarrota, se conta com praticamente todos os países do Leste europeu: Hungria, os países bálticos (cruzados opor recentes mobilizações violentas), etc. Isto suporia uma reversão de tendências de apreço ao capitalismo de mercado em contraste com o velho comunismo, uma questão evidentemente de importância e sobre cujas conseqüências a revista inglesa The Economist (por exemplo) acaba de acender uma luz de alerta. Mas não acaba aqui: também no caso da Irlanda, outrora exitoso modelo da globalização (o repúdio popular aos planos de ajuste se expressou em recente mobilização nacional de 120.000 trabalhadores, se bem que controlada pela burocracia). Islândia (cujos caçarolaços mudaram um governo), Grécia (rebelião popular em dezembr0o passado), |Estados do caribe como Guadalupe e Martinica (com um caminho de greve geral revolucionária) entre outro se podem somar a esta crescente lista de países às margens da bancarrota e do desastre social.  

[v] A este respeito, um dado impactante é a queda do uso de grandes navios de transporta, que cada vez têm menos lugar onde ser fundeados.

[vi] Talvez mais impactante que isto é o dado que 45% da força de trabalho mundial poderia ter uma queda de ganhos para baixo de dois dólares por dia de trabalho (limite abaixo da reprodução da força de trabalho).

[vii] Idem, The Economist.

[viii] Wall Street Americas, 20–03–09.

[ix] Em cidades como Saragoça, o colpaso da construção está significando que o crescimento do desemprego neste ultimo ano aumetou 75%, enquanto que na Espanha em conjunto, se pode passar do atual 15% (uma enormidade que afeta 3.3 milhões de trabalhadores) a um aterrador 20%, uma cifra comparável ao colapso argentino de 2001.

[x] O caso da Irlanda, ainda que um país pequeno, é paradigmático: resulta ser que o outrora “Tigre Céltico” cairia  em uns 6% por cento em seu PIB (que se soma a uma caída de 3% do ano passado) e poderia ter um desemprego de 500.000 trabalhadores pêra este final de ano, nem mais nem menos que 25% de sua força de trabalho remanescente da grande depressão. E tudo isto por não assinalar que o país poderia cair em insolvência.

[xi] Idem, The Economist.    

[xii] A este respeito, ver a polêmica que nossos companheiros de PRAXIS no Brasil vem sustentando com os companheiros do PSTU (os que desde o CONLUTAS têm a responsabilidade da direção do sindicato da fábrica): “EMBRAER: basta de superestrutura, organizemos a luta pela base”. En www.socialismo–o–barbarie.org.

[xiii] Sobre o importantíssimo caso da China, ver todos os dados que a este respeito apresentamos em nossa nota anterior;. “Quando o comercio internacional entra em colapso”. www.socialismo–o–barbarie.org.

[xiv] The Economist, 12–03–09.

[xv] The Economist, 12–03–09.

[xvi]  Kin Moody, idem.

[xvii] Este fenômeno já o observamos na Argentina na oportunidade da crise de 2001.

[xviii] “Los emergentes de la recesión”, en www.socialismo–o–barbarie.org

[xix] Esta mecânica que foi de paralisar a rebelião social que vivemos na Argentina em começos do século, experiencia  da qual se pode sacar muitos ensinamentos.   

[xx] Socialist Today, n°126.

[xxi] Socialismo Hoy, n°126

[xxii] The Independent, Londres, 16–03–09.

[xxiii] León Trotsky, tomado del artículo “¿Salvar al capitalismo desde el Estado?, Juan José Funes, en www.socialismo–o–barbarie.org

[xxiv] Kin Moody, idem.

[xxv] Socialismo Hoy, n°129.

[xxvi] “Perspectivas para un nuevo movimiento obrero”, Kin Moody, Internacional Socialista Review, n°64, marzo–abril 2009.

[xxvii] Michael T. Klare, 26–02–09, en www.socialismo–o–barbarie.org

[xxviii] Michael T. Klare, ídem.

[xxix] Socialist Today, n°126.