Brasil bajo Lula

 

Carta aberta a Heloísa Helena e aos deputados `radicais`

Direção Nacional do PSTU - 13/12/2003

Neste último fim de semana, o PT expulsou vocês para ficar em paz com os representantes dos banqueiros, dos corruptos, dos que governaram este país desde sempre. O PT não merece vocês! É hora de pensar a construção de um novo partido.

É simbólico a atitude da direção nacional do PT, que resultou na expulsão de vocês e ao mesmo tempo defende o corrupto governador Flamarion Portela.

Nós, do PSTU, nos somamos à indignação contra o ato arbitrário da direção deste partido, mas não queremos parar aí queremos dizer que o Partido dos Trabalhadores não merece vocês.

O ano se encerra com o `mercado` em euforia com o governo do PT. A bolsa bate recordes históricos, o risco Brasil está em baixa, o lucro dos bancos e das grandes empresas só cresce.

Mas, para os trabalhadores e jovens que acreditaram em Lula não há motivo algum para comemoração. A promessa de dez milhões de novos empregos se transformou em 500 mil novos desempregados; a propalada “distribuição de renda” significou aumento ainda maior na concentração de renda: os salários perdem participação no PIB e tiveram queda real de 16%. O governo do PT dá continuidade aprofundada à política de FHC, do FMI e da Alca. Arranca direitos dos trabalhadores com reformas neoliberais, como a da Previdência e Tributária e transfere renda, capitais e riquezas para os banqueiros e empresas multinacionais e para a burguesia brasileira que se beneficia desse processo de recolonização a que o Brasil está sendo submetido.

O governo Lula em acordo com Bush, conduz o processo para implementar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) em 2005. A máscara de `Alca light` não conseguirá esconder a verdadeira face recolonizadora desse acordo, que vai causar mais desemprego, exploração e entrega. O governo Lula pavimenta a implementação da Alca ao fechar um novo acordo com o FMI e ao se comprometer em implementar as `reformas` como a Sindical e Trabalhista, a reforma universitária do Banco Mundial e a autonomia do Banco Central.

O PT hoje encabeça, coordena e legitima um governo que não é dos trabalhadores e não é de vocês, e sim dos Flamarions, Sarneys, Meirelles, Furlans, Rodrigues, dos Paloccis, do FMI.

Nós, se fossemos vocês, já teríamos rompido antes. Vocês estiveram conosco e com todo o funcionalismo na luta contra a reforma da Previdência. Estivemos nas ruas contra a indignidade de confiscar aposentadorias para privatizar a Previdência e entregá-la aos Fundos de Pensão. Na nossa opinião, já ali, quando da greve do funcionalismo e votação dessa contra-reforma na Câmara, poderíamos, juntos, ter proposto a formação de uma nova alternativa política de esquerda: a criação de um movimento por um novo partido.

Mas, apesar de não concordar, respeitamos a batalha dada por vocês para permanecer no PT.

É hora de um Movimento por um Novo Partido

Neste fim de semana, porém, o PT expulsou vocês (que são parte do que de melhor existe neste partido) para ficar em paz com os representantes dos banqueiros, dos corruptos, dos velhos políticos que governaram este país desde sempre. É hora de pensar o futuro e a construção de um novo partido.

Como já lhes manifestamos , queremos construir juntos um novo partido. Chamamos todos vocês: Heloísa Helena, Babá, Luciana Genro e João Fontes a formar junto conosco, com diversos outros agrupamentos e com os milhares de ativistas e lutadores dos movimentos sociais que estão rompendo com o PT uma alternativa política pela esquerda ao PT.

Como sabem, ocorreu um Encontro Nacional em Belo Horizonte, com grupos, dirigentes e lutadores que estão dispostos a formar um Movimento por um Novo Partido. A Secretaria, encarregada de organizar as discussões no interior desse Movimento está aberta a participação de vocês e de todos que quiserem se somar, para formarmos um forte e unitário Movimento por um Novo Partido.

E queremos dizer a vocês que seria um grave erro, em nossa opinião, a divisão desse esforço para construir uma alternativa política para a classe trabalhadora brasileira. Negar a participação em um Movimento unitário, para dar curso à criação de um partido já, sem o necessário debate democrático na base, com todo o ativismo, partindo de bases definidas pelos próprios parlamentares, como vem sendo anunciado pelos deputados Babá, João Fontes e Luciana Genro, seria caminhar rumo à repetição dos erros do PT, um partido no qual só os parlamentares decidem, sem ouvir as bases.

O país não necessita de um novo PT, um pouco mais à esquerda. Precisa de algo novo: uma alternativa ao PT, contra esse governo e a burguesia, mas também contra esse regime de dominação, contra a exploração capitalista. O Novo Partido que precisamos não pode priorizar as eleições, como faz o PT. É necessário construir um Novo Partido, comprometido prioritariamente com as lutas diretas dos trabalhadores e da juventude, voltado para conduzir uma verdadeira transformação social no país. E precisa ser profundamente democrático, controlado pelas bases.

Sabemos que existem diferenças sobre o caráter, concepção e programa que esse Novo Partido deve ter. Por isso mesmo, acreditamos que é necessário, antes de legalizar um Partido, por meio de uma decisão de cúpula, fazer um debate amplo, profundo e democrático na base, em um Movimento unitário, que permita também a nossa ação comum nas lutas. Na conclusão desse debate é que devem ser definidos programa, funcionamento, concepções, etc, desse partido novo que estamos criando.

Os trabalhadores brasileiros precisam de um novo partido em alternativa ao PT

A direção do PT, neste momento, está feliz, pois termina o ano de bem com o mercado, expulsando os `radicais` e ainda mantem altos os níveis de popularidade do seu governo. Mas os factóides desse governo, o prestígio pessoal de Lula, o poder da mídia, no entanto, não poderão esconder para sempre a miséria crescente do povo e a recolonização do país. Não existem `Dudas Mendonças` que transformem desemprego e baixos salários em alegria do povo para sempre. Quem enxerga um palmo além do nariz, já começa a ver na ruptura dos intelectuais, nas mobilizações que escapam ao controle da CUT chapa branca, no ceticismo em relação ao governo que vai crescendo, o início de uma mudança.

O governo e o PT apostam na desinformação e no poder da mídia. Nós apostamos na verdade, na experiência concreta e na dura da realidade.

A construção de um Movimento por Novo Partido de esquerda , junto com vocês que foram expulsos do PT, é uma necessidade dos trabalhadores deste país.

Vamos fazê-lo juntos, vamos construí-lo com a força da unidade.

Volver