Jun - 5 - 2015

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O Dia Nacional de Paralisação e Manifestações, 29 de maio (29M), organizado pela maior parte das centrais sindicais,apesar de ter sido um momento de resistência, ter paralisado importantes fábricas, realizado passeatas e reunido alguns milhares de trabalhadores em todo o país,não chegou a mobilizar de forma a impactara realidade nacional para refrear a ofensiva neoliberal de Dilma.

O Dia Nacional de Paralisação pelo país

Na maior parte das cidades as manifestações não passaram de centenas de trabalhadores, com exceção da passeata de professores em greve da rede pública de São Paulo, da passeata dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, da manifestação em Curitiba e em Fortaleza.

Em São Paulo movimentos sociais realizaram manifestações fragmentadas que reuniram algumas centenas de pessoas na Universidade de São Paulo, na Avenida Nações Unidas, na Ponte do Socorro, na Marginal Pinheiros, na Avenida Anhanguera e Ponte das Bandeiras.

No ABC paulista a manifestação mais significativa ocorreu em São Bernardo do Campo, cidade na qual os trabalhadores da Volks, Mercedes e Ford fizeram uma paralisação de 24 horas e realizaram uma grande passeata pelo centro da cidade. No Vale do Paraíba tivemos paralisação de metalúrgicos, mas não houve manifestação de rua, e no litoral houve trancaços em vias de acesso a Santos e Cubatão.

No restante do pais foram nos estados do Paraná (PR)e Ceará (CE) que ocorreram as maiores manifestações. Milhares de manifestantes se reuniram em Curitiba (PR) catalisados pela poderosa greve dos professores, e também milhares em Fortaleza (CE) pela força dos trabalhadores da construção civil e rodoviários.

Nos demais estados houve paralisações de transporte que geraram um clima de greve geral,mas que não conseguiu aglutinar mais do que poucas centenas de pessoas.

Por que o 29M não aglutinou as massas?

Como podemos observar, apesar da extensão territorial do Dia Nacional de Paralisação, em poucos locais as manifestações passaram de mil ativistas. Em locais como a cidade de São Paulo, a fragmentação não se demonstrou uma tática adequada, pois a redução evidente do número de manifestantes causou perda de impacto das ações e facilitou a repressão policial em alguns casos.

A nosso ver, esse fenômeno de esvaziamento do 29M se explica mais pelas manobras da burocracia sindical e pela ainda incapacidade ainda das organizações classistas em mobilizar contingentes de massa do que pela derrota do movimento dos trabalhadores ou uma indisposição de lutar contra os ajustes neoliberais de Dilma e os outros ataques patronais que estão em curso.

O que fez com que esse dia nacional de paralisação não fosse superior às manifestações do último dia 15 de abril e não potencializasse de forma imediata uma greve geral efetiva na sequência se explica centralmente por um elemento que já havíamos apontado em notas anteriores. Depois da manifestação de 15 de abril, que colocou a possibilidade real de um ciclo ascendente de lutas, a burocracia sindical tratou de congelar esse momento passando a chamar uma atividade contra as Medidas Provisórias anti-operárias (MPs 664 e 665, que retiram direitos ao seguro desemprego e pensão por morte) apenas um mês e meio depois.

A colaboração com o governo é tão descarada que durante a votação das MPs na semana passada no Senado não houve nenhuma manifestação das centrais burocráticas governistas – e nem das de oposição de esquerda, diga-se de passagem – contra a aprovação das medidas provisórias. Esse compasso de tempo permitiu que ao governo aprovar as MPs na Câmara dos Deputados e no Senado,praticamente selando a questão e enfraquecendo o 29M. Além,é claro,de dar tempo para Dilma impor o corte orçamentário de cerca de R$ 70 bilhões que aprofundará a precarização da saúde e da educação.

Tratou-se, como sempre o faz a burocracia, de manobrar para que o 29M ocorresse após os ataques de Dilma. A burocracia sindical cutista, principalmente, isola as lutas em curso, adia a mobilização contra os ajustes do governo, para que a situação de fato consumado se imponha, e cria ilusões de que passando a “necessidade do ajuste” o governo irá volta ao seu “curso progressista”, não exigindo assim que uma guerra de classes seja feita contra Dilma e contra os patrões.

Tem sido essa a forma encontrada para manter o movimento sob controle e ajudar Dilma a passar o fundamental do ajuste com a promessa de se vetar a terceirização e as outras ofensivas reacionárias vindas do congresso, como a redução da maioridade penal.

Esquerda precisa unificar a luta pela base 

A esquerda teve presença nas manifestações em todo o país, protagonizou fechamento de rodovias, passeatas, atos e resistência à repressão policial. No entanto, com raras exceções, as manifestações ocorreram de maneira fragmentada e sem mobilizar um contingente massivo de trabalhadores e jovens. Como apontamos acima, as manobras da burocracia foram as razões primeiras para o que o 29M não tivesse alcance de massa e força para segurar o rolo compressor do ajuste neoliberal de Dilma ou as investidas reacionárias do congresso nacional.

No entanto, a esquerda, Conlutas e Intersindical principalmente, poderia ter feito mais e melhor. Em unidade se poderia durante a votação das MPs ter realizado um escanda-lo nacional, com uma agitação em Brasileira, nas galerias do Senado. Mas, infelizmente, quem ocupou a cena política durante a votação foi a burocracia pró-patronal da Força Sindical. Ter organizado a resistência antes da votação das MPs daria a esquerda mais credencial para organizar a manifestação do 29M e, estrategicamente, apresentar-se mais como alternativa de direção a CUT.

Por outro lado, faltou das centrais independente mobilizarem as categorias que dirigem. Os metroviários de São Paulo, dirigidos pela Conlutas e Intersindical, quando anunciaram a paralização no dia 27 de maio tiveram uma intervenção imediata do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) que arbitrou no sentido de determinar reposição salarial,a garantia de 100% de funcionamento no horário de pico, no caso de paralisação, e multa de R$100 mil/dia, no caso de descumprimento dessa determinação. Entendemos que essa é uma situação difícil, porém se tivessem realizado alguma paralisação em horários que não fossem de pico e agitação junto aos usuários teríamos uma paralisação muito mais contundente em São Paulo e que poderia ter repercussão nacional. Problema similar ocorre com os metalúrgicos de São José dos Campos, também dirigidos pela Conlutas, que apesar de terem aderido ao movimento não realizaram nenhum ato ou passeata na cidade, o que deu um caráter passivo para a manifestação nessa região.

Além desses problemas de linha de mobilização, a tática empregada em São Paulo por Conlutas e Intersindical de fragmentar a manifestação em várias passeatas também se demonstrou incorreta. Esse problema se deve a uma postura que, além de equivoca, por não se apostar na unificação desses setores em uma só frente de luta sindical, se nega sistematicamente até em organizar a luta de forma unitária e pela base nos momentos mais dramáticos.

Quando se disputa eleições sindicais se faz plenária para tudo, mas na hora de organizar de forma unitária a luta efetiva contra os ataques homéricos à classe trabalhadora, cada mini aparato atua de modo isolado e sem evocar os ativistas de base.

Ao não se convocar os ativistas, a organização das manifestações passa por cima das necessidades reais do movimento, fazendo com que as táticas não estejam de acordo com a realidade e, inevitavelmente, tiram linhas que não servem para ampliar o número de participantes. Isso explica porque em São Paulo o 29M tenha se fragmentado tanto em pequenos atos que não ultrapassavam poucas centenas de manifestantes.

Por tudo isso, é necessário discutir no Congresso Nacional da Conlutas, que ocorre no próximo final de semana, que essa concepção superestrutural de organização da luta dos trabalhadores e divisão da esquerda em mini aparatos deve ser superada imediatamente para que possamos enfrentar os ataques que estão em curso nesse exato momento.

Além disso, não podemos baixar a guarda em relação aos ataques que passaram, devemos continuar a exigir que as MPs 664 e 665 sejam revogadas. Por outro lado, o Congresso da Conlutas deve propor a construção de uma verdadeira jornada de lutas nacional para unificar as greves de professores que estão em curso, contra a contrarreforma[1] política que está sendo votada no Congresso Nacional e contra a redução da maioridade penal. Além dessas demandas, temos que organizar a luta contra as demissões em massa que estão sendo preparadas pela patronal das montadoras dos principais polos industriais do país.

Não podemos fugir ao balando de que o governo e os patrões, apoiados pela burocracia sindical cutista, avançaram nas últimas semanas de forma significativaem sua ofensiva contra a classe trabalhadora. Mas, apesar da ofensiva global do governo, não existe uma situação de derrota cabal das lutas da classe trabalhadora e da juventude. Pelo contrário, temos em todas as partes do país experiências vitoriosas, como a recente greve da Volvo, lutas duras no setor do funcionalismo,mas que podem ser vitoriosas ou mesmo proporcionar um ganho de consciência, como parece ser esse o caso da greve dos professores do Paraná.

Novas ondas de enfrentamento estão sendo preparadas pela realidade social e política no Brasil e podem ser mais intensas do que as que assistimos até agora. Assim, se Conlutas e Intersindical, dirigidas pelo PSTU e PSOL, respectivamente, quiserem contribuir efetivamente para esse processo, construindo alternativas políticas e organizativas à burocracia sindical terão que deixar para traz todas as inércias superestruturais e aparatistas adquiridas nas últimas décadas de estabilidade política.

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[1].- Contrarreforma que vai totalmente na contramão de uma democracia que atenda aos interesses dos trabalhadores, pois tem se resumido ao aprimoramento do poder do capital sobre o parlamento através das doações privadas diretamente aos partidos e em mecanismos de exclusão dos partidos socialistas, como PSTU e PCB, quando exige que para ter tempo de TV tenham ao menos um parlamentar na Câmara ou no Senado.

Por Antonio Soler, Práxis-Socialismo ou Barbárie, 01/06/2015

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