Jun - 19 - 2015

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Entres os dias 4 a 7 de junho se realizou, na cidade de Sumaré (SP), o II Congresso da CSP-Conlutas. O congresso contou com a participação de aproximadamente 1.700 delegados, representando 373 organizações sindicais, movimentos populares, estudantil e contra as opressões. Segundo os organizadores, houve um crescimento na adesão à Conlutas na ordem de 30%, o que não é desprezível, porém o que não deixam claro qual é o peso social desse crescimento, o que diz respeito ao movimento operário e aos setores que tem peso político na realidade.[1]

O congresso também contou com delegações dos professores das redes estaduais de São Paulo, Pará e Paraná, além de grevistas das universidades federais. Um setor minoritário da classe operária também se fez presente através de delegações dos metalúrgicos de São José dos Campos e trabalhadores da construção civil, petroleiros do Rio de Janeiro e outros setores da classe trabalhadora. Mas, apesar do crescimento orgânico e representação de setores em luta, infelizmente, a Conlutas não sai armada com políticas para enfrentar os principais desafios do próximo período da luta de classes.

É preciso superar as inércias políticas da direção da Conlutas

Em uma conjuntura de ofensiva patronal contra os trabalhadores, de resistência fragmentada através de greves salariais, como a dos professores estaduais, dos operários da construção civil, dos metalúrgicos e, agora, dos trabalhadores da das universidades federais – lutas que exigem a total solidariedade dos trabalhadores e a unificação das diversas organizações independentes -, o II Congresso da CSP-Conlutas não consegue romper com a inércia política da sua direção majoritária (PSTU).

A direção da Conlutas combina uma linha economicista, verificada sistematicamente na falta de campanhas políticas nacionais e iniciativas concretas em defesa das principais lutas, superestruturação, o que se configura como insensibilidade para a organização de base e unificação da esquerda independente, e hegemonismo, o que não se sustenta no peso real que sua direção (PSTU) tem na realidade e torna a direção da central cega para a necessidade de unificação com as demais organizações independentes com o governo e patrões, como a Intersindical, por exemplo.

Infelizmente esses três elementos estruturais durante ocongresso só veio a confirmar-se. Ao ler o Manifesto k”Construir a Greve Geral em defesa dos direitos dos trabalhadores»!”[2],votado no congresso, podemos verificar as inércias políticas da sua direção de maneira bastante evidente. Ao contrário do que pretende fazer crer aos leitores, os principais desafios dos trabalhadores e da juventude não encontram respostas política à altura neste texto.

Apesar de considerar que vários setores da classe trabalhadora e da juventude estarem realizando importantes movimentos de resistência à ofensiva patronal, o Manifesto não tira uma conclusão óbvia, ou seja: de que essas lutas estão correndo de maneira fragmentada e que é preciso que a Conlutas realize campanhas políticas em torno das principais lutas que estão em curso. Não se trata apenas da unificação por cima. Nas greves de categorias onde a central se faz presente seria possível organizar setores amplos do ativismo para organizar a luta e enfrentar a burocracia. Esse foi o caso da greve dos professores de São Paulo onde a Conlutas tem peso, mas, como em outras categorias, não houve nenhuma iniciativa para organizar o ativismo independente por baixo.

É verdade, como afirma o Manifesto, que pela atual correlação de forças uma greve geral só acontece de fato se convocada pela CUT. Porém, é totalmente inaceitável que a Conlutas não realize campanhas nacionais e ações concretas em defesa das greves que estão em curso, contra as demissões e a redução da maioridade penal, eixos fundamentais para o atual momento. Por outro lado, a correta exigência de que a CUT organize uma greve geral não pode se confundir com a total falta de denúncia do papel que a burocracia está cumprindo para que Dilma e os patrões imponham o ajuste econômico contra os trabalhadores.

Organizar um bloco de oposição de esquerda no interior da Conlutas

A inércia da direção política da central não se refere apenas às questões mais candentes para os trabalhadores e para a juventude. Também há inércia em relação à necessidade de construir uma política de frente única que seja capaz de dar resposta às demandas mais imediatas dos trabalhadores e em relação a necessidade de dar passos no sentido de construir uma entidade nacional da esquerda independente unificada.

Por outro lado, unificar os setores independentes em uma só organização sindical é condição necessária para que uma verdadeira pressão político-social se faça sobre a CUT e as demais centrais burocráticas. Esse tema estratégico para a organização e luta dos trabalhadores no Brasil passou ao largo da discussão no congresso.

Apesar do crescimento quantitativo verificado, a Conlutas não sai armada para enfrentar os enormes desafios da luta de classes. Por isso, pensamos que é necessário que os militantes e organizações que atuam no interior da central rompam de forma organizada com essa orientação e passem a exigir da direção majoritária da central que mude o curso político que vem desenvolvendo desde a sua fundação. Para organizar esse descontentamento é necessário que as principais correntes de oposição no interior da Conlutas organizem um verdadeiro bloco de oposição no seu interior.

A nosso ver, esse bloco teria como tarefa central no próximo período da luta de classes trabalhar para que a central realize campanhas políticas e de solidariedade prática aos setores que estão em luta, como os trabalhadores das universidades federais, os metalúrgicos em luta contra a demissão e a juventude, que nessa semana enfrentou os deputados federais contra a tramitação da lei que prevê a redução da maioridade penal. Finalmente, pensamos, também, que, além de lutar politicamente no interior da central e realizar ações práticas em apoio às lutas em curso, é fundamental fomentar no interior da Conlutas, e nas suas bases de atuação, uma campanha sistemática para a unificação das centrais e organizações independes.

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[1].- O que parece ser uma adesão importantes é a do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (AC), sindicato com tradição de enfrentamento e que foi dirigido por Chico Mendes.

[2].- http://cspconlutas.org.br/

Por Antonio Soler, Práxis - Socialismo ou Barbárie, 16/06/2015

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